segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Crise revelou perfil ético das empresas


A opinião é do Professor Clóvis de Barros Filho, da Universidade de São Paulo, que em agosto estará no Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas – CONARH -, falando sobre “Ética, discurso e prática”. “A crise nos mostrou a essência de muitas empresas, ou seja, até onde elas estavam dispostas a ir para preservar ganhos. Nesse sentido, as crises são pedagógicas, pois revelam os verdadeiros valores das empresas, assinala. Segundo Barros Filho, é comum, entre as empresas, uma ampla dissociação entre aquilo que se diz e aquilo que se faz e esta prática, ou seja, dizer uma coisa e fazer outra, é uma clara evidência de falta de ética. “As empresas usam as comunicações, a propaganda, para vender coisas sobre si mesmas que precisam ser confirmadas pela realidade. Quando a realidade não confirma o discurso, a empresa revela, por suas práticas, que é incoerente, que vendeu expectativas que não foram confirmadas, evidenciando assim inexistência de princípios éticos e morais”, critica. Para o professor da USP, seria decisivo que o ensino de ética e moral, hoje praticamente restrito ao ensino superior, fosse ministrado desde cedo, no ensino básico. No entanto, ele adverte que o Brasil não tem professores preparados para isso. “Infelizmente, a grande maioria dos professores de filosofia em escolas de ensino básico ou médio só conseguem que os alunos detestem a matéria ou acreditam que filosofia e moral são coisas herméticas, impenetráveis, que não interessam ao cidadão comum”, assinala. Comitê de ética – Para Barros Filho, a proposta de algumas empresas de criarem um ambiente de trabalho ético por meio da criação de um comitê que cuide dessas questões esbarra nos limites que esse comitê terá para atuar. “Um comitê de ética nas empresas faz sentido se ajudar a difundir o debate sobre ética por toda a organização. No entanto, se o comitê se limitar a ser o centro de um certo conhecimento ou poder, então não será útil para a empresa. Já aquelas empresas que fazem de seus comitês de ética instâncias policiais, onde as pessoas podem fazer denúncias, leva os empregados a se preocuparem mais com a vida dos outros do que com sua própria vida, o que é algo inaceitável”, critica.

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